sexta-feira, 29 de abril de 2011

Boletim da Terra - Ano 1- Número 1 - Abril 2011

Mensagem do mês

“A evolução se desenrola na direção de uma crescente complexidade, que é acompanhada pela correspondente elevação do nível de consciência” (Teilhard de Chardin)

Nesta Edição

Implantando um Sistema de Gestão de Ética
Sustentabilidade e desenvolvimento humano
O que diferencia as empresas líderes em sustentabilidade?
Sustentabilidade em Fundos de Pensão
Novidades da Terra: Novo escritório em Bogotá

O que diferencia as empresas líderes em sustentabilidade?

A Terra Mater realizou recentemente um estudo que buscou analisar práticas de sucesso na implantação da sustentabilidade em empresas nas seguintes dimensões:
 Incorporação do tema nas estratégias empresariais.
 Desenvolvimento de políticas que fortalecem o tema na cultura organizacional.
 Ações concretas que dão suporte às estratégias da organização.
O estudo, que avaliou as práticas de empresas líderes no Brasil e na América Latina, chegou a uma relação de pontos que diferenciam empresas que são líderes nesse tema, entre os quais, pode-se citar: visão clara sobre as mudanças que ocorrem no mercado, envolvimento de stakeholders em diferentes etapas da gestão da empresa, esforços constantes em fortalecer o tema na cultura organizacional, liderança da empresa comprometida com o tema e estrutura de gestão da sustentabilidade adequada ao porte da empresa.
Se você estiver interessado em receber a pesquisa, por favor, envie um email para contato@tmater.com.br.

Implantando um Sistema de Gestão de Ética

Quando se fala em ética empresarial, costuma-se logo pensar em códigos de conduta ou de ética. No entanto, a maioria das empresas envolvidas na crise financeira de 2008 tinha seus códigos, suas regras internas e, no entanto, nada disso evitou que muitas deles estivessem na raiz dos problemas: a fragilidade ética nas empresas.
Hoje, percebe-se claramente a necessidade de que novos padrões éticos sejam implantados no ambiente de negócios. Além de provocar impactos sociais negativos, posturas empresariais que negligenciam a ética são extremamente prejudiciais à imagem das organizações, geram maior vulnerabilidade e riscos às suas operações, impedem acesso a mercados e capitais, comprometem o seu desempenho financeiro e criam um ambiente de trabalho desmotivador para os colaboradores.
Nesse sentido, o bem-estar dos negócios, das sociedades, do meio ambiente e das futuras gerações depende de comportamentos éticos por parte de todos os agentes econômicos, entre eles, as empresas. Conforme estas forem incorporando a ética como parte de suas crenças, valores, visão e missão, elas irão criar negócios melhores e mais lucrativos.
As empresas líderes nesse tema têm buscado ampliar a questão da ética para além dos códigos, criando verdadeiros programas de ética corporativa. Com isso, vence a percepção de que o tema não deve ser conduzido apenas sob a perspectiva do bom senso e

do estabelecimento de regras de como os colaboradores devem agir, havendo conhecimentos, técnicas e ferramental apropriados para que seja garantida a convergência de visões e ações em torno
dos valores organizacionais. Portanto, fortalecer a Ética nas empresas não se resume à criação de um código de ética ou de conduta. Para que o tema seja bem gerenciado, é necessário que a empresa implante um Sistema de Gestão da Ética, composto por uma estrutura organizacional adequada ao seu porte e setor da economia, por um conjunto de políticas e normas internas e por práticas estrategicamente desenvolvidas para alinhar os valores dos colaboradores com os da empresa.

Sobre a Terra Mater

A Terra Mater é uma empresa de consultoria que busca apoiar seus clientes na incorporação da Sustentabilidade em suas estratégias de negócios, como forma de maximizar seus resultados, ampliar sua competitividade e contribuir de forma consistente para a inclusão social e a preservação ambiental. Atua em cinco linhas:
Sustentabilidade nas estratégias e no desenvolvimento de negócios, através da metodologia EVOLUO®.
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Fortalecimento do tema na cultura organizacional, através da plataforma ACADEMIA, de soluções educacionais e coaching para a sustentabilidade.
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Realização de relatórios de sustentabilidade, utilizando a metodologia ACERVO® para coleta automática, diagnóstico, criação e design de relatórios.
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Incorporação da sustentabilidade nos processos de inovação empresarial, através da ferramenta SUSTINOVA®.
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Tecnologia de informação para gestão estratégica da sustentabilidade, utilizando a plataforma SUSTVERDI®.

Visite nosso site: www.tmater.com.br .

Terra Mater entrevista George Barcat do Itaú Unibanco



Uma das empresas líderes no tema de ética é Banco Itaú Unibanco. A Terra Mater desenvolveu um projeto com o banco, no qual avaliamos seu Sistema de Gestão de Ética, aplicando a metodologia EVOLUO®, comparando suas políticas com as principais referências internacionais referentes ao tema de ética, analisando a eficiência da estrutura organizacional que dá suporte a essas políticas e verificando possíveis melhorias nas principais práticas da empresa utilizadas para disseminação do tema.

Na entrevista abaixo, George Barcat, da Consultoria de Ética Corporativa do Itaú Unibanco, especialista no tema e professor de ética e história da filosofia na Associação Palas Athena, fala um pouco sobre ética empresarial e como o tema está presente nas ações da empresa.

Terra Mater (TM): Como o tema da Ética se expressa concretamente no dia a dia da organização e deixa de ser uma questão meramente filosófica?
George Barcat (GB): A Ética é um dos ramos mais antigos da filosofia e, desde sempre, ela se ocupa de questões práticas, dentre as quais, escolho uma que tem tudo a ver com a realidade das organizações empresariais: como realizar negócios justos, isto é, como cuidar de meus próprios interesses sem prejudicar – por ação, descuido ou indiferença – outras pessoas? É desta preocupação que nasce a chamada regra de ouro da vida em sociedade: trate os outros como você gostaria de ser tratado e, justamente, uma das tarefas da Ética Empresarial é enraizar tal regra na cultura organizacional.

TM: Para você, o que é Ética Empresarial?
GB: Antes de tudo, penso que ela é um know-how de gestão, ou seja, um sistema que integra equipes, diretrizes e práticas visando realizar determinados objetivos da empresa. Cabe à Ética Empresarial realizar o seguinte objetivo: criar dispositivos que protejam a integridade da organização incentivando seus públicos internos e externos a fazerem a coisa certa.
TM: A gestão da ética envolve apenas a criação de um código de ética?
GB: Até o início dos anos 90, empresários e executivos entendiam que a instituição de um código de ética ou conduta seria um estimulo suficiente para que os empregados se lembrassem de agir de maneira íntegra, pois ainda podíamos nutrir a crença ou esperança de que a conduta ética “vem do berço”. Porém, o mundo ficou mais complexo. A confusão provocada pela constância e velocidade das mudanças em todos os setores da vida psicossocial (incluído aqui mudanças economia) também atingiu os valores morais. No lugar do “berço ético” entrou o “relativismo ético”. Por conta disto, se deixado sozinho, o código de ética é letra morta – puro desperdício de papel, uma peça de decoração que, depois de um tempo, ninguém nota mais.

TM: Como fortalecer a questão dos valores organizacionais entre os colaboradores da empresa?
GB: Códigos de ética devem ser vistos como planos diretores e, enquanto tal, só podem se tornar uma realidade se suportados por um programa de gestão efetivo, patrocinado e supervisionado pela alta administração da empresa. Então, um programa de gestão do código de ética é, no momento, o melhor modo da empresa incorporar em seus negócios os valores e as regras que preza e nos quais acredita.

TM: De que consiste um programa de gestão do código de ética?
GB: Essencialmente dos seguintes tópicos:
 Uma política clara e abrangente de engajamento e diálogo com os públicos de relacionamento da empresa (stakeholders). No Itaú Unibanco utilizamos, para esta finalidade, a Norma AA1000, administrada pela AccountAbility, organização dirigida por Simon Zadek com sede em Londres. Essa política deve servir de base para os demais tópicos.
 Um programa de educação continuada em ética destinado a disseminar as diretrizes do código entre todos os administradores e colaboradores.
 Definição de processos de tomada decisão estratégica que incluam a consulta regular do código de ética.
 Implementação de canais independentes de recepção e investigação de denúncias e atendimento de reclamações por parte dos públicos internos e externos da empresa (ouvidorias, ombudsman etc.).
 Definição e gerenciamento de indicadores de eficácia do programa.

TM: Como implementar este programa?
GB: O primeiro passo é a criação de um comitê de ética composto pelos principais executivos da empresa e dirigido pelo seu presidente ou CEO. Cabe ao comitê a definição do código e do programa de ética, bem como de sua supervisão. Subordinado a este comitê, a empresa deve ter um setor dedicado a gerenciar o programa de ética em parceria com as áreas de cultura, educação e endomarketing. No Itaú Unibanco este setor é a Consultoria de Ética Corporativa, vinculado à Área de Pessoas e o principal colegiado é a Comissão Superior de Ética (existem vários outros).

TM: Quais são os obstáculos para que uma empresa incorpore a questão da ética de forma consistente?
GB: Em minha opinião são: (a) Vencer a resistência daqueles que ainda acreditam que “ética vem do berço” e que, portanto, basta contratar bem. Isto leva à falsa conclusão de que a empresa não precisa gastar recursos com programas de gestão. (b) Desenvolver o hábito de administradores e colaboradores consultarem o código de ética durante os processos de tomada de decisão importantes, a definição e comercialização de novos produtos, serviços, estratégias de marketing etc. (c) Disseminar a compreensão de que o estrito respeito às leis nem sempre é suficiente para dar conta das questões de natureza moral e impedir que injustiças aconteçam. Basta lembrar, por exemplo, das difíceis questões relativas à legislação tributária e aos vários tipos de conflitos de interesses existentes.


TM: Quais os benefícios para uma empresa que incorpora de forma consistente esse tema em sua gestão?
GB: Sem dúvida, os dois maiores benefícios são: a perenização da confiança de seus públicos de relacionamento e a formação de uma empresa que, de fato, trabalha pelo bem de seus clientes, colaboradores e da sociedade como um todo.

TM: Qual a tendência em termos de evolução desse tema?
GB: Ganhar espaço na agenda dos empresários e executivos e integrar-se, cada vez, mais com temas correlatos como sustentabilidade, governança corporativa, engajamento e diálogo com públicos de relacionamento, combate à corrupção, gestão de riscos etc.

TM: Em especial como você vê a relação entre Ética Empresarial e Sustentabilidade?
GB: Vejo uma total sinergia entre elas; enquanto a Ética Empresarial cuida de realizar valores e princípios a Sustentabilidade robustece o senso de responsabilidade socioambiental da empresa e, em essência, ambas cuidam de um mesmo interesse: melhorar a convivência

entre as pessoas, tornando a vida de todos mais significativa.

TM: Como está esse tema no Itaú Unibanco e qual a contribuição do projeto que a Terra Mater e a SGS desenvolveram para vocês?
GB: Em fevereiro de 2010, lançamos o Código de Ética Itaú Unibanco e estamos reestruturando nosso programa de gestão. Começamos pela estrutura e pautas dos colegiados de ética da organização e pelo programa de educação continuada. Também estamos aprimorando os canais de recepção e tratamento de sugestões, reclamações e denúncias e os indicadores de gestão do programa. O trabalho realizado pela Terra Mater e pela SGS consistiu na avaliação do código de ética e do seu programa de gestão do Itaú (ele ocorreu antes da fusão do Itaú com o Unibanco) fundamentou as mudanças mencionadas acima. Foi um trabalho de fôlego e acho necessário destacar o valor dos insights e orientações que recebemos nas conversas e análises ocorridas durante os nove meses em que ele durou, isto além de um relatório preciso e útil.